A vida moderna, corrida, dinâmica e instável,
impõe cada vez mais estresse e dilemas à
mulher. Talvez não somente à mulher, mas ao homem também, que se vê inseguro e
sem saber mais seu papel ao lado dessa mulher moderna neurótica e
frenética. Cada vez mais, nós mulheres
modernas, “empurramos” o desejo de ser mãe para mais tarde. Com isso, vamos
vendo ao longo do caminho amigas, parentes ou conhecidas que não conseguem
engravidar ou levam anos tentando...e terminam na “corrida maluca” para fazer
tratamentos, como a fertilização in vitro.
Muitos são os fatores que
influenciam na fertilidade. Fatores femininos e masculinos. O estresse, fumo,
toxinas alimentares, são alguns dos fatores que diminuem a espermatogênese
(produção de espermatozoides) masculina, por exemplo. Na mulher, além desse
fatores gostaria de apontar para a OBESIDADE. Você pode estar achando que estou
“puxando a brasa para minha sardinha”, mas a OBESIDADE por muito tempo foi um
fator desconhecido de infertilidade e ainda é muito negligenciado. Na edição
deste mês da revista da The Endocrine Society (Sociedade Americana de
Endocrinologia) a matéria principal foi sobre “Obesidade, infertilidade e contracepção”.
Achei muito interessante e resolvi dividir com vocês esse conhecimento. Vou
dividir o post em três partes: Infertilidade, na parte 1, opinião do Fisiologista, na 2, opinião do Endocrinologista Clínico, e Contracepção, na
parte 3.
A matéria da
revista abriu meus olhos para alguns aspectos que simplesmente desconhecia, e
me deixaram encantada (talvez abobalhada!). A fertilidade e as anormalidades na
ovulação têm relação clara com ESTADO NUTRICIONAL. A desnutrição, o baixo peso
e a pratica de atividade física extenuante influenciam o eixo que controla a
ovulação (Eixo-hipotálamo-hipofisário) inibindo esta. Isso ocorre como um mecanismo de defesa do
organismo, afinal “se não tem energia nem pra manter um corpo em pé, que dirá
gerar um segundo.” Neste contexto, moléculas de sinalização presentes no
cérebro, no hipotálamo, diminuem: kisspeptina, leptina, galanina e
Neuropeptideo Y (para nomear para aqueles da área de saúde). Essas proteínas
são sinalizadores FUNDAMENTAIS para produção das Gonadotrofinas (que comandam a
ovulação). Curioso é que pesquisadores encontraram semelhante diminuição dessas
proteínas no cérebro das mulheres obesas, que desenvolvem o que chamamos de
“hipogonadismo hipogonadotrofico”, ou seja, de forma semelhantes as
desnutridas, as obesas diminuem a sinalização de “ovular” e se preparar para
gestar.
E é só isso? Não, tem mais! O
ovócito secundário (vulgo “óvulo”) da mulher obesa parece ter uma qualidade
pior para prosseguir na formação do embrião. É esse ovócito quem “doa” as
mitocôndrias que irão ser a usina geradora de energia para o ovo fertilizado, e
o futuro embrião, se desenvolverem e implantarem no útero eficientemente. Em
experimentos com ratas obesas, estas mitocôndrias exibem metabolismo anormal,
DNA alterado e uma distribuição no ovulo alterada. Quando essas ratas obesas
permanecem submetidas a dieta rica em gordura, seus ovócitos são menores e o
sucesso da fertilização in vitro (FIV, conhecido popularmente como “bebe de
proveta”).
A implantação do embrião no útero,
que garante a formação adequada da placenta e o sucesso da gestação parece ser
dificultada pela obesidade, provavelmente pela produção de proteínas
inflamatórias que criam um ambiente uterino inóspito para o embrião.
Para completar, fiquei pasma com o
achado em estudos com animais, que o isolamento social também leva a
infertilidade e significativo aumento de Câncer de Mama!! Os pesquisadores
isolaram por 14 semanas um grupo de camundongos fêmeas, antes de entrarem na
puberdade (pré-púberes), em gaiolas individuais enquanto deixaram em uma gaiola
agrupadas 5 de suas “irmãs”. Os
camundongos que ficaram isolados tiveram maior incidência de câncer de mama e
os tumores eram maiores e mais agressivos. O ciclo hormonal dos camundongos e
de moléculas de sinalização cerebrais e nos tecidos periféricos. Os
experimentos sugerem que não só a obesidade, mas também o estresse e o
isolamento social podem ser importantes no processo de infertilidade e de
tumorgênese.
A infertilidade associada a
obesidade e a irregularidade menstrual sempre foram muito associada a Síndrome
dos Ovários Policísticos (SOP). Sempre atendi mulheres obesas que se queixavam
de irregularidade menstrual mas não preenchiam os critérios de SOP. Muitas
vezes, essas mulheres foram “taxadas” como tendo SOP e vinham sendo tratados
com anticoncepcionais ou metformina (remédio para diminuir a glicose) incorretamente.
Ficava me questionando o que tinham essas mulheres obesas. Agora estou feliz!
Feliz em saber!!! Não tem jeito, no final tudo recai sobre perder peso e
adquirir hábitos mais saudáveis. Nós profissionais de saúde temos o dever de
insistir nessa tecla. E vocês, em quem a carapuça servir, em acreditar que é
possível e que há uma luz no fim do túnel!
Este foi o
artigo da opinião do “fisiologista” (pesquisador, que estuda a parte molecular
de como o organismo funciona). Na próxima postagem, vou abordar a opinião do “Endocrinologista
clínico”. Até breve!